11 Agosto 2023
A reportagem é de António Marujo, publicada por 7MARGENS e republicada por Religión Digital, 10-08-2023.
Um grupo de cinco peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa e pertencentes ao Centro Arco-Íris, que promoveu a reflexão sobre os temas LGBT na JMJ sofreu “insultos, empurrões”, apedrejamentos “e até o roubo das bandeiras que carregavam”, antes de ser escoltado “para uma zona mais segura ainda dentro do recinto da Vigília” de sábado à noite.
A denúncia é feita pelo Centro Arco-Íris, que promoveu a realização de um conjunto de iniciativas durante os dias da JMJ de Lisboa, e que já na quinta-feira, dia 3, tinha visto boicotada a celebração de uma eucaristia.
? It’s Day 4 of our empowering program at #WorldYouthDay in Lisbon!
— Global Network of Rainbow Catholics (@GNRcatholics) August 4, 2023
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Centro Arco-Iris!
? “Wonderfully Made - LGBTQ+R(eligion)” Screening & Q&A with the Director and Executive Producer (3 pm - 4:30 pm)
?️ Round table with Fr. James Alison (5:30 pm - 7 pm) pic.twitter.com/JeUaLXvj7v
O incidente de sábado à noite não provocou danos físicos, mas “os danos morais são inúmeros”, diz o comunicado do Centro, a que o 7MARGENS teve acesso. “O desespero de serem atacados e insultados sem que outros peregrinos os apoiem deixou marcas profundas e receios do que possa vir a acontecer no futuro, à medida” que aumentar a sua visibilidade, enquanto cristãos LGBTQIA+, acrescenta o texto. “A estes factos juntam-se outros ataques de LGTBIfobia conhecidos pela comunicação social.”
“Não daremos nenhum passo atrás, iremos avançar e mostrar quem somos, pois temos todo o direito de estar nestes actos como os demais”, disse nesta quarta-feira à noite ao 7MARGENS Aníbal Neves, 62 anos, um dos responsáveis do Centro Arco-Íris e do CaDiv = Caminhar na Diversidade, grupo de católicos LGBT do Porto. “Se as pessoas têm ódio, que não apareçam; só estávamos ali para mostrar que existimos dentro da Igreja e que deve ser assim e que não podemos ser postos fora.”
Aníbal Neves era uma das cinco pessoas que integrava o grupo que entrou no Parque Tejo para participar na vigília. Outros grupos provenientes do Centro Arco-Íris tinham já entrado noutros locais do Campo da Graça, o nome com que o espaço foi baptizado no fim-de-semana da JMJ. Foi ele o principal ofendido, tendo sido mesmo atingido por pequenas pedras, retiradas da gravilha do chão.
Aníbal Neves ficou com a sensação de que o pequeno grupo de atacantes era francês, mas não tem a certeza. Um deles era bem mais alto que o português e encostou-se a ele num tom de ameaça. Depois disso, Aníbal já não se recorda se alguém o puxou para trás, evitando que o agressor consumasse alguma ofensa física.
“Estes acontecimentos ensinaram-nos que ainda há um longo caminho a percorrer, porque pensávamos, erradamente, que a vigília papal era um ato seguro, onde todos, todos, todos tinham um lugar”, diz o Centro Arco-Íris. Tendo em conta o que aconteceu, “em ocasiões futuras vamos organizar-nos para o fazer juntos, juntos e juntos, porque a união faz a força”. Claramente, ainda não é hora de um pequeno grupo de pessoas LGBTQIA+, “especialmente se forem mulheres e pessoas vulneráveis, o perfil de pessoas covardemente atacadas, poder entrar neste evento sozinhas, sem encontrar algum obstáculo violento. Tomamos nota para o futuro e trataremos deste assunto com a organização”.
? Amidst the challenges and protests, the blue sky above tells us about hope and unity. As members of GNRC, we stand proud, resilient, and hopeful, holding our flag high. Believing in love, acceptance, and understanding for all. ? #WorldYouthDay #LoveIsLove #FaithInAction ? pic.twitter.com/kLd5RPLW5a
— Global Network of Rainbow Catholics (@GNRcatholics) August 6, 2023
Por isso, os católicos LGBT pedem que os organizadores da Jornada Mundial da Juventude, sediados em Lisboa ou no Vaticano, se reúnam com os líderes e os membros dos seus grupos “para aprender” sobre as experiências e a necessidade de as pessoas se sentirem seguras e respeitados nos eventos da Igreja. Queremos que esta experiência resulte na verdadeira segurança e na capacitação de todas as pessoas, independentemente da sua identidade de gênero ou orientação sexual, participarem de forma livre e segura em futuros eventos da Jornada Mundial da Juventude.
O Centro Arco-Íris faz apesar disso uma avaliação positiva da JMJ, “que ofereceu a qualquer participante a experiência de encontro e formação com outros cristãos LGBTQIA+, apesar de não ter podido incluir as suas atividades no programa oficial, aparentemente por razões formais de temporalidade”.
No comunicado, o grupo agradece também ao Papa Francisco, por ter afirmado: “Na Igreja cabemos todos”, “Não tenhais medo”.
?️? Anibal & Victoria proudly wave our flag at World Youth Day in Lisbon! Their smiles and enthusiasm embody the spirit of inclusion and faith we're celebrating from Aug 1-4 at Casa da Cidadania. Join us in embracing diversity & love! #WorldYouthDay #Lisboa ?? pic.twitter.com/R8E29lm8oC
— Global Network of Rainbow Catholics (@GNRcatholics) August 2, 2023
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Apedrejados, insultados, cuspidos e roubados: o calvário dos católicos LGTB na JMJ de Lisboa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU